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Quando a consciência pesa demais: pecado, vício e a esperança da misericórdia

  • 30 de ago.
  • 3 min de leitura

Imagine um jovem que cresceu em família católica, cheio de fé e boa vontade. Um dia, pela primeira vez, ele se deixou levar pela curiosidade da pornografia. No início, parecia algo pequeno. Com o tempo, no entanto, a experiência se tornou frequente, depois habitual, até que ele começou a sentir que já não tinha controle.


Em cada queda, vinha um turbilhão de pensamentos: “Pequei gravemente, Deus me rejeitou, não tenho mais salvação”. O peso era tão grande que, em vez de levá-lo à confissão, paralisava-o. Ele já não via esperança: só se enxergava como alguém sempre condenado.


Essa é a lógica cruel do escrúpulo: transformar o coração em um tribunal onde não existe misericórdia, apenas acusações.




O que é, afinal, um pecado mortal?



A Igreja nos ensina que o pecado mortal exige três condições:


  1. Matéria grave

  2. Pleno conhecimento

  3. Pleno consentimento



Quando pensamos em pornografia ou masturbação, de fato, tratam-se de matérias graves. Mas será que quem luta contra um vício tem sempre pleno conhecimento e pleno consentimento?


Vamos pensar em outro exemplo: um alcoólatra. Um homem pode saber que a bebida o destrói, que prejudica sua família, sua saúde, seu trabalho. Ainda assim, quando o vício se torna forte, a liberdade de escolha fica comprometida. Ele pode até resistir por um tempo, mas muitas vezes é vencido por algo maior do que sua simples vontade.


O mesmo acontece com os vícios ligados à sexualidade. O ato continua sendo objetivamente grave. Mas a responsabilidade subjetiva da pessoa pode ser diminuída, porque sua liberdade já está fragilizada.


O Catecismo da Igreja Católica (n. 1735) é claro: “a imputabilidade e a responsabilidade de uma ação podem ser diminuídas ou até anuladas pela ignorância, inadvertência, violência, temor, hábitos, afeições desordenadas e outros fatores psíquicos ou sociais”.




A luta é sinal de fé



Aqui está uma chave importante: quem luta já mostra que não se entregou ao pecado. O coração ainda deseja a Deus, ainda busca a graça, ainda se levanta depois de cair.


Santo Agostinho dizia que a vida cristã é como uma longa caminhada em que sempre tropeçamos, mas nunca desistimos de levantar. O desespero é a maior vitória do inimigo, porque paralisa. A perseverança, ao contrário, mesmo em meio a quedas, já é um sinal de santidade nascente.




A confissão: tribunal ou hospital?



Muitos encaram a confissão como um tribunal, mas a imagem mais fiel é a de um hospital da alma. O confessor é como o médico que ouve, diagnostica e aplica o remédio.


Cada confissão é como uma gota de graça derramada no coração, fortalecendo-o pouco a pouco. Podemos até usar uma comparação da psicologia: é como um reforçamento positivo. Cada vez que a pessoa se confessa, recebe alívio, esperança e força renovada para continuar lutando.


Pense numa criança aprendendo a andar: ela cai várias vezes, mas cada vez que se levanta é aplaudida, encorajada e se torna mais firme. Assim também é a confissão: não é aplaudir o erro, mas fortalecer a vontade de continuar caminhando.




O perigo do escrúpulo



O escrúpulo é como uma sombra que cobre a misericórdia de Deus. Ele faz a pessoa acreditar que Deus só olha para as quedas, quando na verdade o Senhor olha para os recomeços.


O escrupuloso transforma cada fraqueza em condenação. Mas o cristão é chamado a olhar cada fraqueza como uma oportunidade de experimentar a misericórdia. Não se trata de banalizar o pecado, mas de reconhecer que a graça de Deus é sempre maior.




Conclusão: Deus mede sua fidelidade pela perseverança



No fim, não é a quantidade de quedas que define sua vida espiritual, mas a perseverança em levantar-se. Deus não mede sua fidelidade apenas pelas vitórias perfeitas, mas pelo amor que insiste em recomeçar.


Se você luta contra um vício, não caia na armadilha do escrúpulo. Confesse-se, reze, busque ajuda, mas acima de tudo confie na misericórdia. O Senhor não se escandaliza com suas fraquezas: Ele se alegra com sua perseverança.


“Um santo não é aquele que nunca caiu, mas aquele que sempre se levantou confiando na graça de Deus.”

 
 
 

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