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Segunda-feira Santa — Reflexões sobre o Coração de Jesus

  • 14 de abr.
  • 4 min de leitura

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Segunda-feira. O dia ainda amanhecia em Jerusalém com aquele sopro de agitação abafada. Era o tempo da Páscoa. A cidade transbordava de gente, aromas, tensões. Jesus havia entrado triunfante no domingo, montado num jumentinho, aclamado como Rei pelos pequenos, pelas crianças, pelos pobres que espalhavam mantos no chão e clamavam: "Hosana ao Filho de Davi!". Mas o eco dessas vozes já começava a se dissipar nas vielas da cidade. Os olhos dos poderosos se voltavam com desconfiança. A ira se acendia. Jesus sabia. A Paixão se aproximava.


Era a Segunda-feira Santa.


Segundo antigas tradições, confirmadas por revelações místicas de santos como a Beata Ana Catarina Emmerich e Madre Maria Cecília Baij, este dia foi marcado por uma ação decisiva: a purificação do Templo. Jesus, que passara a noite em Betânia — talvez na casa de Lázaro, Marta e Maria — levanta-se cedo. Os evangelhos sugerem que, já de manhã, Ele volta a Jerusalém. O coração de Cristo não carrega hesitação. Carrega um zelo abrasador.


📜 A Purificação do Templo


Entrando no átrio do Templo, Jesus se depara com o cenário conhecido: cambistas, vendedores de pombas, bois e cordeiros; ruído de moedas, discussões, comércio. O lugar da oração transformado em mercado. O espaço sagrado, convertido em máquina de lucro. Jesus sente-Se invadido por um fogo sagrado. Já não é mais o silêncio de Nazaré. Já não é a pregação das parábolas. É o momento da denúncia. É o zelo pela Casa do Pai que O consome. Ele pega cordas e improvisa um chicote. Não bate em ninguém, mas sua presença, sua voz, seus olhos — como labaredas — bastam para que o medo se espalhe. As mesas viram. As moedas rolam pelo chão. As pombas voam. O escândalo é total.


“Minha casa será chamada casa de oração. Mas vós a transformastes em covil de ladrões!” (cf. Mt 21,12-13)


Não era apenas um protesto ético. Era um gesto profético. O Templo antigo estava chegando ao fim. Algo novo e eterno se preparava. O verdadeiro Cordeiro já estava ali, não à venda, mas oferecendo-Se.


🕊️ Misericórdia e Julgamento


A purificação do Templo também é sinal do juízo. Jesus é o Esposo que vem encontrar Sua Esposa infiel. É o Deus que visita Seu povo, mas encontra o coração endurecido. Ele não Se vinga. Não amaldiçoa. Mas mostra que há um limite para a paciência divina. Seu coração está ferido de amor. Tantas gerações foram enviadas. Profetas mortos. Palavras ignoradas. Agora é o próprio Filho que está ali. E será rejeitado.


Místicos relatam que, depois da purificação, Jesus saiu do Templo com um olhar profundamente triste. Não de ódio. Mas de quem ama e não é amado. O Coração do Deus feito Homem ardia num misto de dor e compaixão.


🌿 A Figueira Estéril


No caminho, ao voltar para Betânia, Jesus avista uma figueira. Tem folhas, mas não frutos. Aproxima-se. Nada encontra. Então a amaldiçoa. No dia seguinte, os discípulos notarão: a árvore secou até a raiz (cf. Mc 11,12-14.20-21). O gesto é simbólico. A figueira representa Israel, ou qualquer alma, que tem aparência de piedade, mas não gera frutos de conversão. Jesus não amaldiçoa por raiva, mas para ensinar. A fé que não se traduz em vida está morta. A oração que não gera obras é folha sem fruto.


Essa ação se soma à purificação do Templo: ambos os gestos denunciam a religiosidade vazia, de aparência. O Reino de Deus exige inteireza, verdade, entrega.


🌃 O Silêncio da Noite em Betânia


Volta então para Betânia. Talvez se abrigue novamente na casa de seus amigos. Lá, encontra consolo. Marta prepara a refeição. Maria escuta, talvez silenciosamente sentada a Seus pés. Lázaro contempla o Mestre, ressuscitado, mas agora caminhando para a morte. Jesus sabe. O tempo se esgota. As noites se tornam mais densas.


Talvez tenha se retirado ao monte das Oliveiras para orar. Ou talvez, em Betânia, tenha passado parte da noite em vigília, em silêncio profundo com o Pai. Os místicos nos dizem que, mesmo antes do Horto das Oliveiras, Cristo já vivia uma paixão interior. A antecipação da dor. A clareza de cada humilhação que viria. As traições. As cusparadas. Os espinhos. Os pregos. E sobretudo, o abandono. A humanidade de Jesus se prepara para a tempestade.


💔 A Dor Interior de Cristo


Como deve ter doído ao Seu Coração ver o desprezo dos homens pela presença de Deus. Como deve ter sido pungente o contraste: o louvor infantil do Domingo de Ramos e, no dia seguinte, a frieza dos doutores da Lei. Os aplausos se tornariam gritos de "Crucifica-O". Mas mesmo assim, Jesus não desiste. Ele continua amando.


Na Segunda-feira Santa, podemos imaginar Jesus rezando pelos que O odiavam. Chorando pelos que O abandonariam. E pedindo ao Pai que nos perdoasse, porque não sabemos o que fazemos. O Seu olhar atravessava os séculos. Via cada coração. Cada dor. Cada recusa. Mas também cada alma sincera. Cada pecador arrependido. E por estes, continuava.


🙏 Lições para Nós


A Segunda-feira Santa nos convida à purificação. O Templo de Deus agora somos nós. Há em nós mesas de cambistas que precisam ser viradas. Cômodos do coração tomados por interesses, vaidades, trocas. Há figueiras sem frutos que devem ser cortadas ou transformadas. A liturgia da Semana Santa não é apenas memorial. É atual. É viva.


Cristo continua visitando nosso templo interior. Entra com autoridade, mas também com ternura. Expulsa o pecado, mas quer habitar. Grita contra a hipocrisia, mas chora conosco no silêncio da noite. Ele sabe que somos frágeis. Mas quer nos fazer novos.


Neste dia santo, caminhemos com Jesus. Entremos com Ele no Templo. Percorramos os caminhos de Jerusalém. Saiamos com Ele até Betânia. Silenciemos diante de Seu olhar. E deixemo-nos purificar.


Jesus, manso e humilde de coração, tornai o nosso coração semelhante ao Vosso.


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