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A Liturgia de Hoje: Fé, Incredulidade e o Tempo de Deus na Igreja



Hoje, a Liturgia da Palavra nos traz o final do Evangelho de São Marcos (Mc 16, 9-15), um dos textos mais tocantes sobre as aparições do Senhor Ressuscitado. Em poucas linhas, o evangelista condensa três momentos fundamentais que revelam não apenas a vitória de Cristo sobre a morte, mas também a dura luta que se trava dentro do coração humano: a luta entre a fé e a incredulidade.


Num momento histórico em que a Igreja vive o luto pelo falecimento do Papa Francisco e se prepara para o Conclave que escolherá seu sucessor, essa Palavra ressoa com força redobrada. Ela nos convida a olhar não para os homens – tão frágeis e hesitantes – mas para o Ressuscitado, que permanece vivo e agindo em sua Igreja, apesar das dúvidas, das traições e das durezas de coração.



As Três Aparições: O Ressuscitado Busca os Corações



O Evangelho de hoje apresenta três momentos de aparição do Senhor:



1. Maria Madalena: A Fé Solitária



A primeira aparição é a Maria Madalena. Ela, que fora libertada de sete demônios por Jesus, permanece fiel mesmo no momento do maior escândalo: a cruz. Seu amor a conduz até o túmulo vazio e, em seu choro, ela encontra o Senhor vivo.


Entretanto, quando ela vai contar aos discípulos que viu o Ressuscitado, eles não acreditam. Sua fé solitária é a primeira centelha de luz que se acende na madrugada da Ressurreição. Mas seus irmãos na fé ainda estão cegos pela dor.


Quantas vezes, também hoje, Deus acende uma luz no coração de alguém e nós permanecemos céticos?



2. Os Discípulos de Emaús: O Coração Queimava



Depois, Jesus aparece a dois discípulos que caminhavam para Emaús. Eles haviam abandonado Jerusalém, símbolo da esperança traída. Em seu desencanto, não reconhecem o Senhor que caminha ao seu lado. Só na partilha do pão seus olhos se abrem.


Eles retornam correndo para anunciar aos demais. E, novamente, são recebidos com incredulidade.


Assim também nós, muitas vezes, caminhamos lado a lado com Deus e não O reconhecemos até que nossos corações “queimam” diante da Palavra e do Pão da Vida.



3. Os Onze: A Repreensão e a Missão



Por fim, o Ressuscitado aparece aos Onze – sem Judas, cuja ausência clama como um grito silencioso da gravidade da traição. Jesus não apenas se mostra a eles; Ele os repreende por sua incredulidade e dureza de coração.


Só depois de curar essa dureza é que Ele os envia a pregar o Evangelho a toda criatura.


A fé é dom, mas também é batalha. A missão só é confiada àqueles que, mesmo atravessados pela dúvida, se deixam transformar pelo encontro com o Cristo vivo.



Três Aparições, Três Lições



O número três, recorrente nas Escrituras, é simbólico: sinal de perfeição e plenitude. As três aparições revelam um caminho:


  • Da fé pessoal (Maria Madalena)

  • Para o reconhecimento comunitário (Discípulos de Emaús)

  • Até o envio missionário (Os Onze)



A Ressurreição é um processo que invade a vida dos discípulos, respeitando suas fragilidades e vencendo suas resistências.



O Drama da Incredulidade: O Que Falta?



O Evangelho nos mostra que os discípulos tinham:


  • O testemunho (Maria Madalena, discípulos de Emaús)

  • A graça de Deus (o próprio Jesus diante deles)



Mas faltava a atitude interior. Estavam fechados na tristeza, endurecidos, pessimistas.


Essa cena ecoa em todos os tempos: não basta ter provas externas; é preciso um coração disposto a crer.


Como dizia Graham Greene:


“Não creio na minha incredulidade. Senhor, eu Te ofereço a minha dúvida.”

Crer é um ato de coragem humilde diante da Palavra que nos supera.



Hoje: Entre a Incredulidade e a Esperança



O falecimento do Papa Francisco nos coloca, como Igreja, num daqueles momentos em que a fé é testada. Muitos católicos, nestes dias, oscilam entre sentimentos variados: tristeza, alívio, medo, esperança, confusão.


Assim como os discípulos diante do sepulcro vazio, muitos olham para a Igreja e só enxergam escândalos, divisões, dificuldades. O que deveria ser um momento de recolhimento e esperança para o Conclave muitas vezes se torna campo de debates, suspeitas, alarmismos.


E no entanto, Cristo Ressuscitado continua vivo em Sua Igreja!


O número onze dos apóstolos, que nos é lembrado hoje, fala de uma Igreja ferida – sem Judas – mas ainda apostólica e viva. A missão continua, não por nossa força, mas pela vitória de Cristo.


O Conclave que se aproxima será uma oportunidade para que todos nós, como Maria Madalena e os discípulos de Emaús, deixemos de lado nossas cegueiras e durezas, e reconheçamos que Jesus ressuscitou… e que Sua Igreja pertence a Ele.



Condições para Crer Hoje



Tal como ontem, hoje também precisamos de:


  1. Testemunho: Da Tradição da Igreja, dos santos, da vida dos fiéis.

  2. Graça de Deus: Que nunca falta à Sua Igreja, mesmo nas horas mais sombrias.

  3. Atitude Pessoal Correta: Um coração aberto, humilde, disposto a reconhecer que Deus age onde menos esperamos.



Sem essa abertura, cairemos no erro dos primeiros discípulos: ignorar o Cristo presente porque nossas ideias e temores falam mais alto do que a fé.



Um Apelo: Crer Para Ver



Neste tempo de oração pela Igreja, deixemos ressoar em nosso coração o convite de Jesus:


“Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura.” (Mc 16,15)

Anunciar não é uma opção para quem encontrou o Ressuscitado: é consequência inevitável.


Assim como Maria Madalena correu ao encontro dos apóstolos, assim como os discípulos de Emaús voltaram a Jerusalém às pressas, também nós somos enviados a testemunhar que a morte não venceu, que a dúvida não venceu, que Cristo vive!



Conclusão: A Igreja Não É de Homens, Mas de Cristo



A morte do Papa Francisco, somada às tensões e expectativas que envolvem o Conclave, pode nos tentar a cair no mesmo erro dos primeiros discípulos: o de pensar que a Igreja depende dos homens, das circunstâncias, dos jogos de poder.


Não. A Igreja é de Cristo.


Ele ressuscitou. Ele está vivo. E continua a agir em Seu Corpo Místico, mesmo quando nossos olhos humanos só veem caos.


Que cada católico, nestes dias, reze com insistência:


  • Pela eleição de um novo Papa segundo o Coração de Deus.

  • Pela conversão dos próprios olhos e corações.

  • Pela coragem de crer, mesmo no meio da dúvida.



Como dizia São João Paulo II:


“A Igreja vive da Eucaristia” – não vive de política, nem de ideologias.

O túmulo está vazio. O Ressuscitado nos precede. E a Igreja, apesar das feridas, caminha sob a luz daquele que venceu a morte.




 
 
 

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