Os Inimigos da Igreja mudaram de tática e nós caímos em suas armadilhas
- Thácio Siqueira
- 25 de abr.
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Por Thácio Siqueira
Na oitava da Páscoa, enquanto os sinos ainda dobravam em festa e os altares ostentavam a vitória da Vida sobre a morte, a Igreja foi visitada por uma notícia que fez o mundo deter a respiração: o Papa Francisco havia morrido. A partida do Santo Padre, envolta na luz do Tempo Pascal, não foi apenas um marco cronológico — foi um sinal. E como todo sinal vindo do Alto, exige interpretação à luz da fé. Francisco, o homem que tantas vezes dividiu opiniões, uniu no momento de sua morte multidões em silêncio. E é justamente aí que começa nossa meditação.
Não foi uma morte banal. Foi uma morte cristã. E isso já diz muito. Em tempos em que se morre aos berros ou se esconde a morte como vergonha, ver um homem de branco, pastor universal, partir serenamente, confiando-se ao Pai, é um escândalo de fé. Francisco nos deu, em seus últimos suspiros, uma lição que vale mais do que mil documentos: morrer é confiar. E confiar é um ato profundo de maturidade. Não a maturidade psicológica dos tratados modernos, mas a maturidade espiritual que nasce de uma alma que já não vive de si, mas por Cristo.
No entanto, o mistério mais doloroso e grave não está apenas em sua morte — mas em sua recepção. Os maiores inimigos da Igreja, aqueles que ontem a atacavam com fúria, hoje a abraçam com sorrisos. A maçonaria internacional, que em séculos passados arquitetou planos para destruir o papado, hoje publica homenagens comoventes ao Papa Francisco. Partidos políticos que defendem o aborto e promovem leis contra a moral cristã, se declaram “inspirados” por seu legado. Jornais que outrora debochavam de Bento XVI e insultavam São João Paulo II, agora exaltam Francisco como “o Papa do nosso tempo”. O que está acontecendo?
A resposta não é simples, mas é urgente: os inimigos da Igreja mudaram de tática. Se antes nos atacavam de frente, agora se disfarçam de aliados. Se antes queimavam catedrais, agora acendem velas em nossos altares. Mas não porque se converteram. Fazem-no para dividir. A estratégia, agora, não é destruir a Igreja — mas usá-la. E o Papa, símbolo visível da unidade católica, tornou-se o alvo perfeito dessa manipulação. Não o Papa em si, mas a imagem que dele se construiu — muitas vezes distorcida, arrancada do contexto, isolada de sua comunhão com toda a Tradição da Igreja.
Sim, Francisco falou de misericórdia, de acolhimento, de escuta. Mas nunca negou o pecado. Sim, falou de diálogo, de pontes, de periferias. Mas nunca renunciou à cruz. Seus gestos foram pastorais, mas sua fé era profundamente sacramental. E mesmo que sua linguagem tenha sido por vezes ambígua aos olhos do mundo, seu coração permanecia romano e católico. Contudo, o mundo — e seus inimigos — viram nessa linguagem uma oportunidade. Apropriaram-se de suas palavras, silenciaram seus gestos de fé, recortaram suas homilias, e ofereceram ao público um “Francisco útil”, domesticado, progressista, como se fosse um novo ícone da revolução moral. E assim, dividiram o rebanho.
Essa divisão é o maior sinal de que a estratégia foi bem-sucedida. Católicos agora brigam entre si por causa da imagem de um Papa que, no fundo, jamais foi aquilo que seus detratores — disfarçados de amigos — dizem que ele foi. Francisco tornou-se espelho da crise que já habitava os corações. Os que já estavam inclinados à rebelião, o acusaram de heresia. Os que já flertavam com o relativismo, o transformaram em justificativa. E no meio disso, o Corpo de Cristo sangra.
A morte do Papa Francisco, portanto, revela mais sobre nós do que sobre ele. Ele partiu em paz. Nós ficamos em guerra. Ele descansou no Senhor. Nós seguimos alimentando narrativas. E talvez esta seja sua última grande lição: a Igreja não se sustenta por discursos, nem por partidos, nem por imagens manipuladas. A Igreja é sustentada por Cristo. E Cristo não se deixa enganar. Ele vê os corações. Ele conhece os que se dizem amigos do Papa para melhor atacar o Papado. E conhece também os que, feridos por confusões reais, mantiveram-se fiéis mesmo em meio às dúvidas.
Não se trata, pois, de canonizar Francisco, nem de atacá-lo. Trata-se de aprender com sua morte que a maturidade em Cristo não é sinônimo de unanimidade, mas de fidelidade. O cristão maduro não idolatra nem destrói. Ele discerne. E ao discernir, reconhece que a Igreja pertence a Cristo, e que nenhum Papa é maior que o Espírito Santo que a conduz. Francisco foi um servo. Com defeitos e virtudes, como Pedro, como todos os Papas. Mas sua missão foi cumprida. E agora cabe a nós crescer.
A maturidade cristã exige silêncio diante da morte. Exige humildade diante do mistério. E exige coragem para denunciar o novo modo de ataque contra a Igreja: o elogio disfarçado, a aliança dúbia, o abraço envenenado. Que os católicos, enfim, despertem. Que não sejam como crianças levadas por qualquer vento de doutrina, nem como adolescentes encantados com aplausos do mundo. Que sejam, como dizia São Paulo, homens feitos, que atingiram a estatura da maturidade em Cristo.
Que o Papa Francisco, agora liberto das palavras distorcidas, interceda por nós diante do Trono do Cordeiro. Que sua morte nos una, não nos divida. E que o Espírito Santo, Senhor da Igreja, conduza com sabedoria o próximo sucessor de Pedro — para que a Esposa de Cristo não seja confundida com as vozes do mundo, mas reencontre, como sempre, seu centro no Evangelho eterno.
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